No horizonte eu pintei meu sonho
E lá longe, envolto em névoa
Eu vi-te um dia.
Corri,corri ... Oh! como corri !
E sem forças, lá longe e tão perto,
Como andorinha morri !
Corria uma brisa suave e quente, num fim de tarde de Agosto.
O sol começava a subir o monte de São Silvestre, anunciando o fim da sesta e o princípio da labuta.
Começava-se a ouvir o chilrear dos passarinhos novamente, como que despertando para um novo dia.
As árvores começavam a movimentar-se levemente, como que atordoadas pelo calor dessa tarde.
Os regos da água começavam a ter som, um som refrescante no embate contra as pequenas pedras. A vida voltava.
Por entre as canas, de um verde amarelado do milho, ou das verdes ramadas, começava a vida.
Chapéus de palha apareciam; olhos esbugalhados de gente acabada de acordar, numa tarde quente de Verão. Fora tempo da sesta à sombra de tudo o que protegesse de um sol abrasador. Era, também, o fim da radionovela “Simplesmente Maria”. Hoje a Maria quase tinha beijado o Afonso, mas ficou-se pela intenção, como se quisesse dizer “ amanhã beijo-te”. As mulheres discutiam se iria ou não beijar o Afonso no dia seguinte.
-Se ela o beija é como as outras – dizia a tia Elisa, (vá-se lá saber quem eram as outras).
Nem tiveram tempo de concluir sobre o que iria acontecer no dia seguinte.
O tio Elias já chamava, irritado pela demora da mulher para vigiar os regos.
A água era uma dádiva. Não se podia perder gota. Agosto era sinónimo de seca.
_Já vou – gritou a tia Elisa.
_Que raio de homem este, nem se pode falar um bocadinho!
A minha mãe nada dizia. Nos seus pensamentos estava meu pai, lá longe, na procura do pão para a família; os olhos da minha mãe transmitiam a saudade e o querer que ele também ali estivesse e lhe gritasse:
“ _Alice acabou a sesta, anda trabalhar!”
Olhou para mim, sorriu, embora triste e continuou o seu caminho.
Para trás eu tinha deixado a tentativa de bater um novo recorde. Amanhã iria conseguir subir ao máximo o grande carvalho. Era uma árvore centenária, enorme, imponente, que vivia sobre o muro que separava o campo de milho e o souto, onde as mulheres passavam estas tardes quentes a lavar na poça do souto. Enquanto isso, eu e meu irmão corríamos carreiro abaixo, descalços e embalados pela corrida, tentávamos subir ao máximo o castanheiro. Tinha uma cavidade onde eu me metia, onde eu sonhava maravilhado com a linda paisagem da minha aldeia e mais ao longe Mesão Frio.
Minha mãe caminhava com a bacia de roupa à cabeça, eu e o meu irmão seguíamos os seus passos, esperando por ordens. O melhor que me podia calhar era ir regar, o pior era a redra da vinha ou o apanhar feijão no meio do milho. Como detestava isso! As folhas do milho cortavam-me a cara, e com o suor, a comichão invadia-me , o pó da vinha entrava-me no corpo como lâminas.O que eu gostava mesmo era de regar. Gostava do barulho da água, da sua frescura e do cheiro da terra queimada que deixava pelos regos ainda secos. Descalço corria pelos regos acima e abaixo para não perder gota. Deixava-a deslizar suavemente pela horta, pelo milho, por todo o verde que, sequioso, me pedia água.
Como eu entendia a linguagem das plantas!
_A “meio tufe” – gritava minha mãe de longe - poupa-me a água!
Um dia descobri no meio do milho uma zona muito húmida. Peguei na enxada e escavei. Quanto mais escavava mais húmido ficava.
- Como é possível? -pensava eu.
A poucos metros de profundidade a água brotava. Que alegria! Porém, depois, entrei em pânico… tinha destruído o milho. Já sabia: uma coça era o meu destino.
Minha mãe aproximou-se, todo o meu corpo tremia. O milho seria a testemunha do meu azar.
Mas não! Minha mãe pegou em mim e beijou-me:
_ Meu filho que maravilha! Esta água vai ser a nossa salvação!
E foi. Um poço com poucos metros e água pura para beber e regar.
A partir desse dia comecei a ter frigorífico. Um frigorífico natural, sempre era melhor que a velha mina. Sempre tive medo de ir ao fundo dela buscar água fresca ou colocar o vinho para refrescar para o jantar.
Hoje o poço ainda lá está. O castanheiro, esse, morreu. Mataram-no. Trocaram-no por meia dúzia de cepas de vinha. Com ele morreu um pouco de mim. Mas quem liga a isso?
E anoiteceu...
Sobre estas quatro paredes,
Sobre as lágrimas que me correm pela face,
Sobre o mar calmo e a maresia,
Sobre o canto dos pássaros,
A noite se instalou.
Ninguém aqui vive
Ninguém aqui está...
Só eu!
Só eu e a noite,
Amigos inseparáveis.
Divinos!
Como o céu e a terra
Num entardecer,
Não há luz.
Não há vozes.
Não há nada !
Só o silêncio...
E tu não estás aqui.
Não me disseste bom dia amor
Por isso ,anoiteceu !
Bebi no teu peito amor
Todo o carinho do mundo
Todo o néctar da minha vida
O perfume das manhãs
Minha flor
Bebi no teu peito amor
As palavras que utilizo
Nos versos que escrevo
Nas palavras que pronuncio
Que fizeram nascer em mim
Todo o amor
Amor de amar
E pelas tuas mãos carinhosas
Nasceram ideias sucessivas
Onde teu rosto pintei
Bebi no teu peito amor
O néctar para a minha vida
Bebi das tuas mãos amor
Todo o orgulho
Toda a inspiração
Já há muito adormecida.
Tenho nos meus lábios ainda,
O aroma do teu último beijo
Dado na partida, em que partiste.
Tu partiste, mas ganhei-o
Tão intenso ,tão terno e doce
Que dura ainda nos meus lábios,
Tão desejosos d'outro ... de ti.
Tenho ainda nos meus lábios
O aroma do teu último beijo
Duma recompensa na despedida.
E mesmo que quisesses voltar,
E eu não te pudesse receber,
Abriria os braços para te abraçar
E, quietinho, esperaria por outro igual,
Que duraria até a minha vida acabar.
... mas tu partiste e eu fiquei...
Fiquei aqui !
Por Ti
Por ti , serei capaz
De olhar as estrelas todos os dias
E esquecer-me de mim.
Por ti , serei capaz
De contar todas as areias do deserto,
Até ficar louco.
Por ti , serei capaz
De morrer no rio impávido e sereno
Que passa na minha montanha ,
Mesmo que meu corpo não desse à foz.
A ti…
A ti daria tudo
Farei tudo para te ter.
A ti daria tudo
O meu amor e o meu Ser.
Por ti , faria tudo
Por ti , morreria
Se tal fosse preciso
Mas , … repara, só por ti ,
E por mais ninguém , minha Filha.
Palavras que ouvi, amorosas .
Loucos como são, os homens !
Segredam (nada mais escandaloso !)
Amores e palavras amorosas.
Não têm medo, odeiam estas palavras !
Amor, o que é ?
Palavra oca e sem sentido,
Escrita em todos os lugares,
Ditada - em voz ditadora -
Pelos senhores dos púlpitos,
Pela prostituta, nos haréns,
Por todos ... sem sentido.
Se o amor é isto, então basta !
Eu não amo, só lhe ouço o eco
Vindo de longe ...de muito longe !
Ah! Se eu amasse !
Se o mundo fosse amor !
Pobre do homem, pobre de mim
Insignificante e reduzido seria,
Como o sentido desta palavra !
Já está gasta !
Inventem outra
Para os segredos amorosos,
Porque esta já está velha,
De tanto ser usada em nada.
Já não há amor na palavra amo-te !
Já não há amor na palavra AMOR !